Na crónica mordaz do 'comendador Marques de Correia' de 25 de Agosto de 2007 na revista Única do jornal Expresso, por palavras travessas outras se dizem, não pude deixar de a transcrever aqui para que outros também as possam apreciar:
A Eufémia
é vermelha!
Lisboa, 21 de Agosto de 2007
MEU CARO MINISTRO RUI PEREIRA
Escrevo-te na convicção de que deves mandar prender imediatamente os arruaceiros que destruíram a maçaroca transgénica nos arredores de Silves. Não tanto por terem dado cabo do milheiral ao homem, mas sobretudo por apropriação indevida de um nome: o nome da grande Catarina Efigénia Sabino Eufémia, mãe de três filhos e morta no Baleizão há 53 anos pelo tenente Carrajola, durante uma greve de trabalhadores rurais.
Ora, a ideia de chamar Verde Eufémia a um movimento que se dedica a arrancar maçaroca transgénica é como baptizar de Gay Zezé Camarinha um movimento de homossexuais, ou como ver um preto de cabeleira loura - não fica bem nem é natural.
A verdadeira Eufémia tinha, 26 anos, era mãe de três filhos, lutava por um salário melhor e nem sequer era militante do PCP. A sua versão «Verde» luta por menos pólen, valha-me Deus! Mas alguém acha que a Catarina verdadeira se importava com o pólen ou com o gene? Andaria ela em acampamentos de agricultores nos quais a única agricultura que se faz é a da canábis? A coisa nem faz sentido!
Agora imagina, meu caro Ministro, se um dia uns tipos quaisquer se lembram de fazer um movimento associativo da Faculdade de Engenharia para lutar violentamente contra o excesso de currículo e lhe chama Cábula Sócrates? Ou se um grupo de algarvios em fúria contra o excesso de turistas ricos e de festas e confusão no Algarve se une e resolve auto-intitular-se Piroso Cavaco? Ou, ainda, se a claque de uma equipa de basquetebol que faz distúrbios em áreas de serviço da Galp e da Repsol de norte a sul do país se decide nomear Berra Marques Mendes e entra em guerra com os Caceteiros Portas que são adeptos de uma outra equipa de hóquei em patins do Sanjoanense, ou da Física de Torres Vedras, ou vá lá, do Infante Sagres? Sim, que depois da enormidade da Verde Eufémia tudo é possível.
Eu queria ver, meu caro Rui, o que aconteceria caso o Dr. Cunhal ainda fosse vivo... Ou, caso o velho Movimento da Juventude Trabalhadora, que a Dr.a Zita Seabra canta em versos puros e alexandrinos no seu mais recente livro - «Foi Assim» -, ainda estivesse no activo. Meu Deus! Não ia ser preciso GNR para nada, pois o Dr. Cunhal encarregaria o velho MJT de dar tantas no toutiço daquele pessoal que eles acabariam todos a cuspir dentes à mistura com bagos de milho transgénico, já sem serem capazes de distinguir o que era deles, o que era do milho, o que era do gene e o que era do pólen. Benza-o Deus, se acaso tem o Dr. Cunhal com ele.
Isto, meu caro, é que é verdadeiramente importante. E não o que disse o Cavaco, o que disse o Jaime Silva e o que dizem os outros! Não se pode tomar assim o nome de gente séria e trabalhadora. E, se o Governo não fizer nada, formo já o Vermelho Salazar e dou cabo dessa canalha toda antes de eles serem capazes de pronunciar a palavra globalização.
E aproveita que eu estou calmo!
COMENDADOR MARQUES DE CORREIA ,
comendador@expresso.pt