Aqui está uma opinião que corroboro a 100%, e aqui ajudo a divulgar.
Do Expresso online.
http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/371008
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O choque entre o "black power" e o "gypsy power" originou uma linha de raciocínio curiosa. Entre outras coisas, esta linha afirma que as Câmaras Municipais não podem juntar no mesmo bairro duas comunidades étnicas com hábitos distintos. Notável. Estou completamente de acordo. Aliás, acho que devemos comprar uma herdade no Alentejo e transformá-la numa Reserva Cigana. Portugal seria, assim, o primeiro país do mundo com um parque antropológico destinado a acolher o povo cigano... Meus caros, deixem-se de brincadeiras. Portugal é um estado de direito e não uma colecção de tribos. Mais: defender a tolerância implica negar qualquer validade analítica ou moral ao conceito de 'comunidade'. Uma democracia liberal é habitada por indivíduos e não por comunidades.
Este episódio da Quinta da Fonte mostra como os jornalistas, políticos e comentadores têm medo de falar sobre as 'minorias'. É natural: aqueles que ousam criticar as ditas minorias costumam ser rotulados de 'racistas' pelas patrulhas do SOS Racismo e demais bugigangas do politicamente correcto. Esta vulgata multiculturalista determina que o racismo é um monopólio do homem branco. O 'outro' (os negros, os ciganos, etc.) só pode ser uma vítima do racismo branco. Por isso, os multiculturalistas ficam caladinhos quando surgem factos que comprovam a existência de racismo nas minorias étnicas. E este silêncio revela um pensamento racista. É isso mesmo: o politicamente correcto é um racismo cor-de-rosa. Isto porque os negros e os ciganos são tratados como crianças em ponto grande; crianças que nunca são responsabilizadas pelos seus actos. Balas esvoaçaram no meio da rua, mas a culpa é da Câmara de Loures! Este paternalismo que infantiliza o 'outro' só pode ser descrito com uma palavra: racismo. O politicamente correcto veste uma fatiota cor-de-rosa, mas não deixa de ser racista.
A 'comunidade' não puxa gatilhos. Até prova em contrário, apenas os indivíduos conseguem disparar uma arma. E aqueles "cowboys" da Quinta da Fonte têm de ser julgados; não podem ser desculpabilizados com base na cor da pele. Até porque a maioria das pessoas daquele bairro é gente decente que não merece ser confundida com criminosos. Meus caros, defender a tolerância implica tratar as pessoas como indivíduos - passíveis de serem responsabilizados - e não como índios a viver na impunidade de uma reserva cultural.
Esquerda reaccionária
Em 'Identidade e Violência' (Tinta-da-China), Amartya Sen critica o vício culturalista que insiste em fechar cada indivíduo na sua identidade étnica ou religiosa. A esquerda multiculturalista, diz Sen, acaba por cair no espírito reaccionário quando faz a defesa dogmática da preservação cultural. Os multiculturalistas consideram que a comunidade é mais importante do que a liberdade de escolha do indivíduo. Ora, os indivíduos não merecem a opressão do hífen multiculturalista: uma criança é uma criança, e não uma criança-cigana. Na verdade, a nova esquerda multiculturalista é tão reaccionária como a velha direita nacionalista. O multiculturalismo é uma espécie de nacionalismo regurgitado para as minorias.
Henrique Raposo »
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